A alimentação é uma questão política e, assim como diversas das escolhas diárias e cotidianas presentes intrinsecamente na vida dos cidadãos, tem consequências para muito além do cardápio do dia. Nesta obra, observa-se que o uso de transgênicos e agrotóxicos de modo extensivo nas plantações é uma característica própria de um sistema produtor predatório, baseado na exploração dos recursos naturais de forma não condizente com o conceito do desenvolvimento sustentável, de maneira a priorizar o ganho de capital privado em detrimento da saúde e segurança públicas. Nesse sentido, são analisados os modelos de produção agrícola de dois países, o Brasil e a França, com o intuito de averiguar as semelhanças, diferenças e contradições em nível interno e externo. Enquanto o Brasil é considerado o “celeiro do mundo”, sendo o país que mais emprega agrotóxicos em suas plantações e o segundo maior produtor de variedades transgênicas, a França apresenta um modelo agrícola lastreado em regras tão rígidas que inibem de forma integral a produção das referidas variedades em suas terras, sendo considerada um exemplo no campo da aplicação do princípio da precaução. Todavia, note-se que isso não impede a grande quantidade de importações que a França faz de commodities transgênicas, sendo muitas, inclusive, produzidas no Brasil. Assim, com uma visão crítica, após uma extensa análise do panorama histórico fático e da evolução normativa de cada um desses países na temática observada, com a reflexão das consequências imediatas e a longo prazo dos modelos adotados, chega-se a uma contundente crítica da exploração das riquezas naturais do Sul Global por países pertencentes ao Norte Global, empregando-se o pensamento abissal para compreender que o modelo adotado parte de uma perspectiva macro internacional que busca a conversão do Norte em sujeito do conhecimento e do Sul em objeto de conhecimento. Os resultados ultrapassam em muito os meros efeitos econômicos, gerando impacto no respeito da vontade democrática da sociedade, no direito de informação do consumidor e na manutenção da diversidade biológica